segunda-feira, 25 de junho de 2018

Raízes da expressão em nosso corpo

A procura das raízes comportamentais da linguagem, que justificam e explicam a forma como o ser humano se expressa partiram, indubitavelmente, de nosso corpo humano, como primeira fonte. A segunda fonte veio das verdades agrárias com as quais estes mesmos seres entraram em contato, e com as quais mantém uma estreita relação até os dias de hoje, de forma menos direta.

Que outro referencial primário, que nos serve de moradia, inclusive, seria mais óbvio do que o nosso próprio corpo, no estágio mais concreto de nossa mente, em nossos primeiros tempos de história ?

Um exemplo deixará isto bem claro, e se constitui no primeiro assunto desta discussão:

A cabeça

Vamos sim evidenciar o óbvio, pois este é o que mais nos escapa, justamente por ser óbvio. Ouvimos e falamos, frequentemente que:

"Aquela pessoa é o cabeça do movimento"

Analisando nosso próprio corpo, e sendo óbvios, para lembrar daquilo que já foi esquecido, vemos que a cabeça é a nossa parte do corpo mais superior, mais alta. Nela reside a mais poderosa máquina do Universo: o cérebro. Assim, ela se torna o cofre sagrado daquele que é o bem mais valioso que podemos citar em todo o mundo. Mas cabe a esta discussão ressaltar mais os locais e partes do corpo do que esmiuçar as suas incontáveis partes funcionais.

A cabeça também denota, indiretamente, a ideia de altura (ideia secundária), afinal quem é que fica no topo do corpo ? A altura sugere ideias terciárias como: domínio, poder, força, autoridade, etc.

Os cabelos

Uma das expressões que utilizamos "isto me fez perder os cabelos". Isto porque quando as pessoas se esforçam na resolução de um problema, costumam coçar a cabeça com grande intensidade, numa demonstração de aflição.

A Bíblia cita os cabelos em:

"Portanto, até os fios de cabelo da sua cabeça estão contados." (Lc 12:7)

Neste caso a finitude dos dias do homem estão nos cabelos. De fato, é frequente a quantidade de superfície capilar deteriorada, no homem, atestar a sua idade. Existem exceções, ou seja, homens que chegam sem que a calvície os atinja antes da morte.

O Corpo

O Corpo é o nosso referencial, principalmente sob o ponto de vista dos referenciais que oferece. Já citamos a cabeça, parte mais alta , porém única. O corpo do homem tem uma só cabeça, para mostrar que ele é unitário, de onde veio a ideia de indivíduo. Como já mostrado pela Biologia, apesar de único, o cérebro que reside na cabeça tem duas formas de ver as coisas, mas estas duas formas se complementam, produzindo um só pensamento composto de duas partes, que leva a uma ação única e integrada, naqueles que não possuem uma doença psíquica neste nobre órgão.

A cabeça, assim, já exibe uma dualidade, tanto em seu órgão interno mais importante quanto nos órgãos dos sentidos que abriga com tanto cuidado, como olhos, ouvidos e nariz, contrastada pelo órgão que emite as nossas opiniões e se comunica com os nossos semelhantes: a boca.

Da unicidade do órgão da fala tiramos a importante diretriz para nossas vidas: a boca deve emitir opiniões únicas como expressão de um ser que deve buscar uma identidade através da qual possa ser conhecido. É desastroso para o indivíduo emitir opiniões diferentes para contextos iguais, tornando-se fingido, hipócrita, dúbio e desonesto, portanto.

Mas no âmbito dos parâmetros referenciais, a dualidade é algo inteiramente essencial. Temos em nós um dos conceitos mais básicos da orientação: direita e esquerda.

Até mesmo questões morais, e em certa proporção espirituais, se ligaram a este referencial de lateralidade. Dizia-se, por exemplo, que os canhotos tinham parte com o diabo, pois o natural reconhecido como hábito saudável era ser destro. Quando algué, tinha habilidade com a espada, dizi-se que "fulano é destro com a espada". Canhotos naturais tinham a mão esquerda amarrada, durante as tarefas, para que a necessidade de sobreviver os fizesse utilizar o braço e a mão direita.

Os braços

Os braços herdaram da ideia de lateralidade dos antigos referências muito importantes para a língua. A pessoa de maior confiança de uma pessoa era chamada de "meu braço direito". Dos guerreiros hábeis no manejo da espada se dizia que eram "destros na espada", valorizando o braço direito do ser humano.

Esta lateralidade dos braços atingiu seu mais alto grau de expressão nos Pontos Cardeais: Leste e Oeste, tão utilizados na navegação aérea, náutica e terrestre.

As mãos

A habilidade das mãos humanas, resultado de sua concepção com dedo opositor, fizeram do ser humano a criatura inventiva e governadora do mundo. E de sua arquitetura veio o conceito numérico da dezena, e portanto o sistema decimal, básico para a ciência matemática, que formaliza os conceitos de todas as outras ciências com previsibilidade numérica (ciências ditas exatas).

O Rei Eduardo I (Inglaterra) instituiu como unidade de medida o comprimento da porção distal de seu dedo polegar (da base até a ponta da unha), de valor 2,54 cm em nosso sistema brasileiro, denominando-o polegada.

O coração

Tido como o órgão que mantém a vida biológica com o seu bater infindável, o coração foi, durante séculos, considerado como a sede não só da vida como dos sentimentos mais profundos do ser humano. Quando se fala de sistemas e de máquinas, o cerne, o núcleo de tais coisas também é dito como coração daquela coisa da qual se fala.

Os pés

Os pés da espécie humana tem importância superior à das patas traseiras dos animais, pois sustentam os membros desta espécie na posição ereta, e não simplesmente ajudam no movimento sincronizado de 4 patas.

E no sentido espiritual, é dito que o pecado, no sentido de contrariar a Deus, é o ato de andar com os próprios pés. Os pés devem ser guiados pela razão que também consultou a Deus quanto ao caminho que deveriam seguir. Ou seja, andar com os próprios pés é seguir a própria vontade, sem uma consulta a Deus, à consciência, aos interesses coletivos, etc.

A língua

A língua é apenas um membro da boca humana que auxilia na fala e no sentido gustativo do ser humano. E por ajudar na fala, diz-se "língua grande" ou "língua frouxa" daquele que fala sem pensar, ou daquele que utiliza a fala com perversidade, mentindo, difamando e distorcendo os fatos.

Quando se educa uma pessoa quanto ao falar, diz-se para ela "refrear a língua", ou seja, tomar o cuidado com o que diz, como diz e quando diz alguma coisa.

O olho

O Olho é o órgão mestre da curiosidade e da cobiça. Não se consegue desejar algo no "coração" sem que os olhos vejam.

O Nariz

O nariz é nosso órgão responsável pela respiração, pelo fôlego de vida. Mas ainda existe um outro significado. Na raiz de línguas semitas, a palavra para raiva vem da palavra para nariz, pois quando estamos com raiva, as laterias do nariz se movem com maior nitidez, devido à nossa respiração alterada.

Conclusão

Realmente, como nossa verdade mais próxima e inegável, o Corpo é o melhor referencial, entre outras coisas, para a nossa expressão verbal diária. Lembrarmos disto põe nova luz sobre o significado das nossas palavras de uso diário.