quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O que é aprender ?

Como APRENDER é algo que se destaca em uma sociedade cultural, o meio mais frequente para tal fim se torna a LEITURA. É a partir dela que o APRENDIZADO se consolida. Este assunto foi tratado por Mortimer J. Adler em seu antológico livro que, na tradução para o português leva o título "A Arte de Ler" [1]. Segundo ele, a Leitura é uma das ferramentas, talvez a principal, para se chegar ao Aprendizado [2].

O autor (Mortimer J. Adler) faz uma comparação entre o ato da LEITURA e um jogo de BEISEBOL [3]. E fruto desta comparação é citada a tríade de verbos: LER, APRENDER e APREENDER. A última ação (apreender) é a que mais se aproxima da função do "catcher" deste esporte americano tão popular (beisebol), cuja função é justamente a de APREENDER [4] a BOLA.

Nesta feliz comparação de Mortimer, a BOLA é o novo CONHECIMENTO [5], que deve ser Seguro (apreendido, agarrado). Nesta analogia, o que seria a MÃO do "catcher" ? Esta mão representa a COLEÇÃO DE CONHECIMENTOS da mesma categoria, e de categorias mais próximas do Contexto em que ele foi expresso ou observado, ato que se iguala ao LANÇAMENTO DA BOLA [6].

Verdade Redundante

Se a Bola (nova ideia) precisa ser Segura (apreendida) pela Mão (conhecimentos já adquiridos), podemos dizer que só podemos compreender um novo Conceito ou Definição se já possuirmos, a anteriori, um somatório suficiente de "pré-conceitos" relacionados ao qual fomos expostos agora, no momento deste novo APRENDIZADO. Daí constatamos o quão difícil é aprender algo novo.

E se for totalmente NOVO, precisamos compreender o grau de dificuldade implícito no ensinamento de Ranganathan: "só podemos distinguir com clareza algo já parecido com outro algo que já conhecemos".

Formação do Conhecimento

Pelo que foi exposto, fica fácil compreender o porquê da formação de um adulto crítico a partir de uma criança altamente sugestionável, que absorve com grande avidez as primeiras impressões e verdades da vida sem questionamento e com grande alegria.

Os conhecimentos básicos das crianças vem das impressões colhidas em meio aos cuidados de seus pais em relação a elas, das canções de ninar, das brincadeiras com os pais, das atividades e dramatizações feitas utilizando ou não seus brinquedos como intermediários, da descoberta de seu próprio corpo, da observação do ambiente físico do seu lar e da observação da natureza (árvores, animais, céu, sol, lua, veículos, casas). Sobre este Universo básico serão colocados novos conhecimentos "lançados" sobre as crianças. Ligações ("links" [7]) serão então construídos entre este novo conceito "lançado" e os já existentes por meio de relações.

Relações Ricas e Relações Pobres

As relações entre conceitos podem ser diretas ou indiretas. Por incrível que pareça, as indiretas são mais eficientes para provocar crescimento e maturidade. As relações pobres são os sinônimos. E por que pobres ? Porque sugerindo uma associação imediata, não implicam em uma cadeia de raciocínios que provoque aquela sensação de revelação peculiar á descoberta. As ricas são as mediadas por verbos em expressões significativas que lembram fatos históricos, episódios ilustrativos. Alguns exemplos de verbos são: possui, determina, submete, controla, é controlado e assemelhados.

As relações intermediárias envolvem comparações como "é menor", "é maior", "é igual", pois se aproximam de uma medida geométrica.

Relações episódicas

Uma situação bem conhecida vai ilustrar esta exposição. Se a criança já fez suas dramatizações (chamaremos assim por ser mais conveniente) com seus carrinhos de brinquedo, ela vai "RECONHECER", ou seja, "APREENDER" o significado do carro de seu pai, apenas acrescentando a este significando (o carro do pai) o característico de ser maior do que aquele com o qual brincava e que lhe serviu de modelo mental. E quando for mais velha, esta criança, ao entrar em contato com o Ônibus, pela primeira vez, vai acrescentar ao significando do carro um novo conceito, qual seja o de "Carro que transporta várias pessoas, bem mais do que o carro básico".

Quanto mais "História" a criança ou o jovem (ou mesmo o adulto) acrescentar a um significando, enriquecendo o seu significado, mais relações estará construindo em torno do núcleo básico de uma ideia, de um conceito e, consequentemente, melhor, mais eficiente será a "APREENSÃO" do conceito "lançado" sobre ela.

Anotações e Aprendizado Ativo

Mortimer chama o Aprendizado de ativo quanto mais atividades o leitor realiza enquanto está lendo. As formas mais comuns de atividades são: o grifo, as anotações, os diagramas. Só pelo fato de estar com uma caneta na mão anotando, o leitor já está integrando seus centros motores na ação de leitura. Mas a integração de centros motores à atividade intelectual é só um fator auxiliar. Perguntaríamos: "onde está o estímulo intelectual na leitura ativa ?"

A resposta está na maior possibilidade de se achar Relações entre as Ideias ou Conceitos Básicos da infância e as Ideias Lançadas, bem como entre os Conceitos Secundários em relação aos Básicos e os Conceitos ou Ideias Lançadas pelo texto. As relações entre conhecimentos Básicos e os Novos se encaixam na regra de Ranganathan sobre Reconhecimento.

Só podemos dizer que aprendemos quando constatamos que fomos capazes de estabelecer estas Relações entre o Novo e o Velho.

Dedução

A Dedução é uma Relação mais distante com base nas Ideias relacionadas, num nível superior. Uma dedução simples seria, a partir de a = b e b = c, deduzir que a = c. Para a dedução é preciso um pouco do elemento de "insight". Você consegue constatar algo entre as Ideias que não está diretamente associado a elas, mas à uma composição das mesmas. Seria como a percepção de Einstein sobre as propriedades da luz, quando se imaginou viajando em um de seus raios.

Conclusão

Ler é uma das ferramentas para se Aprender. Aprender é estabelecer Relações entre Novas Ideias e o conjunto de Conceitos e Ideias contidos em nossa memória,


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[1] Editora AGIR - Primeira Edição ano 1930. Título original: "How to read a book".
[2] Leitura e Aprendizado - Se a leitura for feita como reza o livro citado, ela servirá de instrumento eficiente para um aprendizado eficaz.
[3] Capítulo 2, parte 3 (numeração da edição de 1954 - Editora AGIR)
[4] Sendo o corpo a medida e parâmetro inicial para as comparações do ser humano, o SEGURAR da Bola é o que mais se aproxima do APREENDER dos sentidos que uma leitura quer expressar.
[5] O Conhecimento é uma expressão precisa de uma nova Observação ou Dedução, completo em si mesmo, conforme a Ideia de seu Autor. Ele não é a INTERPRETAÇÃO que lhe dão, mas um fruto genuíno de CONTEXTO definido no momento da experimentação ou no momento de sua dedução. Ele está solidamente atrelado a uma Época (Tempo) e a um lugar (Local). Reexperimentado e produzindo as mesmas impressões em outros Tempos e Locais, ele se torna um Conhecimento Global, um CONCEITO ou uma DEFINIÇÃO.
[6] A cada vez que surge uma dificuldade, expressa por um problema, resultado de uma mudança ocorrida em um Tempo da história, podemos dizer que houve o lançamento de uma Bola, como uma nova tendência, uma nova moda ou uma nova solução.
[7] Esta forma de ligação ficou mais evidente com o surgimento do ambiente Web. O livro pioneiro nestas ligações foi a Bíblia, com seus versículos cruzados.

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