sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Certificando que um texto está bem escrito - A boa redação

Os textos representativos de uma língua são como construções que mostram a riqueza dos materiais que o compõem e demonstram inteligência no uso de cada um.

Construções para morar e construções textuais

Falemos então das construções (edificações) como casas e prédios. Existem materiais que são combinados para formar as suas paredes, como TIJOLOS e CIMENTO. Sobre eles é colocada a MASSA CORRIDA e a TINTA.

Os textos são bem parecidos. Os Tijolos são as palavras mais determinantes, como os Substantivos e Verbos. O Cimento são os diversos conectores, como Preposições, Conjunções e congêneres. A massa corrida são os Adjuntos e Advérbios, e a Tinta são os Adjetivos. De uma forma geral a semelhança se dá desta forma.

E assim como uma casa, que tem um mínimo de paredes, e cada parede tem muitos tijolos, para proporcionar a altura de pessoas de tamanho médio, mais uma altura de tolerância, um texto bem escrito tem (1) frases grandes, porém compreensíveis, (2) sem muitos adjetivos (pois uma casa com paredes pintadas de muitas cores desagrada aos olhos), (3) revelando uma sequência de fatos ou uma sequência de características e (4) apresentando metáforas, que incrementam o raciocínio e ajudam a fazer a comparação entre os diversos tipos de contexto do mundo real..

O excesso de adjetivos, em um texto, pode esconder a intenção de disfarçar a falta de conteúdo e de sequência.

Além disso, as frases não devem ter repetições, salvo quando extremamente necessárias. Para evitar a repetição deve-se dominar os pronomes demonstrativos (este, esse, aquele, esta, essa, aquela, etc). Repetições desnecessárias denotam infantilidade de quem escreve.

As sequências do mundo real

As sequências do mundo real são simples, e muito bem conhecidas (talvez por isto sejam ignoradas):


Parece óbvio, mas estas sequências lógicas, naturais, bem conhecidas como Universais, foram esquecidas, e teses aparecem, a todo momento na Internet e nas conversas do dia a dia, que desrespeitam flagrantemente estes Princípios Básicos.

A segunda sequência deixa de existir, quando se constata, por exemplo que "brasileiro não tem memória". O que é a memória ? A memória, neste modelo, é representada pelo retângulo à esquerda do segundo princípio: "PASSADO". Hoje, no Brasil, as pessoas facilmente se esquecem daquilo que aconteceu, ligado ao fato em análise.

Os Fatos

Quanto aos fatos, também existe um Princípio Básico contrariado a todo momento, naquilo em que vemos escrito e publicado na Internet ou em telejornai:

.
A figura representa aquilo que é tão conhecido como CONTEXTO, e que também parece que foi esquecido quando as pessoas falam e escrevem. Lemos textos e notícias que deixam interrogações, prejudicando a percepção clara dos Fatos.

O que um texto bem escrito revela sobre a mente de quem escreve

Os apressados logo diriam que um texto bem escrito revela ORGANIZAÇÃO. Por detrás desta palavra se esconde um princípio fundamental do Universo: a ORDEM. E no que consiste a Ordem nos textos ? A Ordem consiste na obediência às "Sequências do Mundo Real" apresentadas acima.

Já repararam como muitos jovens ficam irritados com histórias escritas e filmes em que o desenrolar da ação vai e volta no tempo ? As pessoas com uma maturidade de leitura não se importam com isto, pois conseguem, pela percepção de Causas e Consequências, cadeias de efeitos sequenciais, saber em que tempo está se desenrolando a ação.

E o que estas observações que fizemos revelam sobre A MENTE DE QUEM ESCREVEU ?

Escrever desta forma, ou seja, obedecendo as "Sequências do mundo real", revela que o escritor sabe construir mentalmente um ESPAÇO FÍSICO-TEMPORAL com cadeias de CAUSA e CONSEQUÊNCIA coerentes. E mais, o reconhecimento destas cadeias revela uma mente investigativa, madura, que sabe distinguir quais CAUSAS geram quais CONSEQUÊNCIAS, ou seja, ela conhece as regras do mundo em que vive.

Desta forma, quem ler, COM ATENÇÃO, o texto escrito saberá refazer os contextos que o escritor viu e descreveu ou imaginou, tendo prazer na leitura. Os "deficientes cognitivos", mesmo diante de um texto bem escrito, falham na reconstrução do cenário que o escritor imaginou.

Se você lê um texto e, em sua mente, se formar um cenário que vai sendo preenchido com as entidades que o autor foi enumerando em sua narrativa, e a ação liga estas entidades de forma coerente, provavelmente o texto lido foi bem escrito. E se esta característica se repetir na maior parte dos textos deste autor, ele é, provavelmente, um bom autor.

Conclusão

Um texto bem escrito é simplesmente uma peça literária que obedeça princípios básicos utilizados para o raciocínio, com fatos concatenados que obedecem à ordem temporal de causa e efeito.











segunda-feira, 25 de junho de 2018

Raízes da expressão em nosso corpo

A procura das raízes comportamentais da linguagem, que justificam e explicam a forma como o ser humano se expressa partiram, indubitavelmente, de nosso corpo humano, como primeira fonte. A segunda fonte veio das verdades agrárias com as quais estes mesmos seres entraram em contato, e com as quais mantém uma estreita relação até os dias de hoje, de forma menos direta.

Que outro referencial primário, que nos serve de moradia, inclusive, seria mais óbvio do que o nosso próprio corpo, no estágio mais concreto de nossa mente, em nossos primeiros tempos de história ?

Um exemplo deixará isto bem claro, e se constitui no primeiro assunto desta discussão:

A cabeça

Vamos sim evidenciar o óbvio, pois este é o que mais nos escapa, justamente por ser óbvio. Ouvimos e falamos, frequentemente que:

"Aquela pessoa é o cabeça do movimento"

Analisando nosso próprio corpo, e sendo óbvios, para lembrar daquilo que já foi esquecido, vemos que a cabeça é a nossa parte do corpo mais superior, mais alta. Nela reside a mais poderosa máquina do Universo: o cérebro. Assim, ela se torna o cofre sagrado daquele que é o bem mais valioso que podemos citar em todo o mundo. Mas cabe a esta discussão ressaltar mais os locais e partes do corpo do que esmiuçar as suas incontáveis partes funcionais.

A cabeça também denota, indiretamente, a ideia de altura (ideia secundária), afinal quem é que fica no topo do corpo ? A altura sugere ideias terciárias como: domínio, poder, força, autoridade, etc.

Os cabelos

Uma das expressões que utilizamos "isto me fez perder os cabelos". Isto porque quando as pessoas se esforçam na resolução de um problema, costumam coçar a cabeça com grande intensidade, numa demonstração de aflição.

A Bíblia cita os cabelos em:

"Portanto, até os fios de cabelo da sua cabeça estão contados." (Lc 12:7)

Neste caso a finitude dos dias do homem estão nos cabelos. De fato, é frequente a quantidade de superfície capilar deteriorada, no homem, atestar a sua idade. Existem exceções, ou seja, homens que chegam sem que a calvície os atinja antes da morte.

O Corpo

O Corpo é o nosso referencial, principalmente sob o ponto de vista dos referenciais que oferece. Já citamos a cabeça, parte mais alta , porém única. O corpo do homem tem uma só cabeça, para mostrar que ele é unitário, de onde veio a ideia de indivíduo. Como já mostrado pela Biologia, apesar de único, o cérebro que reside na cabeça tem duas formas de ver as coisas, mas estas duas formas se complementam, produzindo um só pensamento composto de duas partes, que leva a uma ação única e integrada, naqueles que não possuem uma doença psíquica neste nobre órgão.

A cabeça, assim, já exibe uma dualidade, tanto em seu órgão interno mais importante quanto nos órgãos dos sentidos que abriga com tanto cuidado, como olhos, ouvidos e nariz, contrastada pelo órgão que emite as nossas opiniões e se comunica com os nossos semelhantes: a boca.

Da unicidade do órgão da fala tiramos a importante diretriz para nossas vidas: a boca deve emitir opiniões únicas como expressão de um ser que deve buscar uma identidade através da qual possa ser conhecido. É desastroso para o indivíduo emitir opiniões diferentes para contextos iguais, tornando-se fingido, hipócrita, dúbio e desonesto, portanto.

Mas no âmbito dos parâmetros referenciais, a dualidade é algo inteiramente essencial. Temos em nós um dos conceitos mais básicos da orientação: direita e esquerda.

Até mesmo questões morais, e em certa proporção espirituais, se ligaram a este referencial de lateralidade. Dizia-se, por exemplo, que os canhotos tinham parte com o diabo, pois o natural reconhecido como hábito saudável era ser destro. Quando algué, tinha habilidade com a espada, dizi-se que "fulano é destro com a espada". Canhotos naturais tinham a mão esquerda amarrada, durante as tarefas, para que a necessidade de sobreviver os fizesse utilizar o braço e a mão direita.

Os braços

Os braços herdaram da ideia de lateralidade dos antigos referências muito importantes para a língua. A pessoa de maior confiança de uma pessoa era chamada de "meu braço direito". Dos guerreiros hábeis no manejo da espada se dizia que eram "destros na espada", valorizando o braço direito do ser humano.

Esta lateralidade dos braços atingiu seu mais alto grau de expressão nos Pontos Cardeais: Leste e Oeste, tão utilizados na navegação aérea, náutica e terrestre.

As mãos

A habilidade das mãos humanas, resultado de sua concepção com dedo opositor, fizeram do ser humano a criatura inventiva e governadora do mundo. E de sua arquitetura veio o conceito numérico da dezena, e portanto o sistema decimal, básico para a ciência matemática, que formaliza os conceitos de todas as outras ciências com previsibilidade numérica (ciências ditas exatas).

O Rei Eduardo I (Inglaterra) instituiu como unidade de medida o comprimento da porção distal de seu dedo polegar (da base até a ponta da unha), de valor 2,54 cm em nosso sistema brasileiro, denominando-o polegada.

O coração

Tido como o órgão que mantém a vida biológica com o seu bater infindável, o coração foi, durante séculos, considerado como a sede não só da vida como dos sentimentos mais profundos do ser humano. Quando se fala de sistemas e de máquinas, o cerne, o núcleo de tais coisas também é dito como coração daquela coisa da qual se fala.

Os pés

Os pés da espécie humana tem importância superior à das patas traseiras dos animais, pois sustentam os membros desta espécie na posição ereta, e não simplesmente ajudam no movimento sincronizado de 4 patas.

E no sentido espiritual, é dito que o pecado, no sentido de contrariar a Deus, é o ato de andar com os próprios pés. Os pés devem ser guiados pela razão que também consultou a Deus quanto ao caminho que deveriam seguir. Ou seja, andar com os próprios pés é seguir a própria vontade, sem uma consulta a Deus, à consciência, aos interesses coletivos, etc.

A língua

A língua é apenas um membro da boca humana que auxilia na fala e no sentido gustativo do ser humano. E por ajudar na fala, diz-se "língua grande" ou "língua frouxa" daquele que fala sem pensar, ou daquele que utiliza a fala com perversidade, mentindo, difamando e distorcendo os fatos.

Quando se educa uma pessoa quanto ao falar, diz-se para ela "refrear a língua", ou seja, tomar o cuidado com o que diz, como diz e quando diz alguma coisa.

O olho

O Olho é o órgão mestre da curiosidade e da cobiça. Não se consegue desejar algo no "coração" sem que os olhos vejam.

O Nariz

O nariz é nosso órgão responsável pela respiração, pelo fôlego de vida. Mas ainda existe um outro significado. Na raiz de línguas semitas, a palavra para raiva vem da palavra para nariz, pois quando estamos com raiva, as laterias do nariz se movem com maior nitidez, devido à nossa respiração alterada.

Conclusão

Realmente, como nossa verdade mais próxima e inegável, o Corpo é o melhor referencial, entre outras coisas, para a nossa expressão verbal diária. Lembrarmos disto põe nova luz sobre o significado das nossas palavras de uso diário.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Por que a França é o único país evoluído de língua latina ?

Uma constatação objetivamente feita pelas pessoas em relação aos povos de língua latina é a de que, em termos de progresso técnico e financeiro, eles não avançaram quase nada em relação ao seu estágio de colônias. Eles tem sua língua, cultura e economia próprias, mas continuam sendo, de alguma forma, tutelados pelos outros países, dependentes, de certa forma, economicamente daqueles, e com problemas reincidentes no que tange à política, apresentando crises constantes.

América Central e outros escravos

A América Central, excetuando o Panamá, apresenta índices de crescimento econômico risíveis. Existem teorias pseudo-técnicas, que proferem absurdos étnicos como explicação para estes índices, como a classificação deste povo como de ex-escravos. O povo judeu já foi escravo, e a evolução técnica e econômica deste é digna de nota, assim como de outros povos antigos que foram escravizados por grandes impérios, mas que se levantaram, como o povo chinês, duramente escravizado e humilhado pelos japoneses durante a segunda grande guerra, ou o povo polonês, igualmente escravizado e humilhado pelo delírio alemão durante esta mesma guerra.

Brasil

Mesmo com suas dimensões continentais, que significam, a grosso modo, abundância de recursos, o Brasil pouco evolui na proporção desta enorme extensão territorial. Até seu crescimento populacional é pífio, pertdendo para os Estados Unidos, cujo tempo de colonização e tipo de origens históricas é o mesmo (salvo os responsáveis pela sua colonização).
O Brasil, etnicamente, é uma "sopa" com ingredientes de todo o mundo. Temos descendentes de italianos, japoneses, poloneses, africanos, alemães, suiços, judeus, franceses, ingleses, espanhóis e toda a sorte de misturas possíveis.

Onde está a raiz de nossa incapacidade ?

Procurar a razão de nossa pouca evolução como nação em fatores humanos de primeiro nível, os fatores étnicos, portanto, é um absurdo que revelaria uma falta muito grande de inteligência. Em segundo nível, poder-se-ia citar nossos colonizadores. Ignorância igualmente estapafúrdia, pois recebemos muitas outras ondas migratórias.

A razão é muito mais profunda. Ela se encontra em nosso órgão mais capaz, mais evoluído e ainda subutilizado. Mas antes vamos falar da exceção, pois toda exceção ajuda a esclarecer a regra.

França

A França adotou a língua latina. A principal razão foi a "devoção" à religião católica. Ora, a língua eclesiástica dominante era o latim. Ao invés de utilizá-lo apenas para os fins religiosos, por que não adotá-lo para todos os fins ? E assim foi feito.

Então perguntemos nós a nós mesmos:

Por que a França é um país evoluído, apesar de utilizar a língua latina ?

Lembremos então de algo que se perdeu nas brumas do tempo. De que povo raiz veio o povo francês ? Do mesmo povo que deu origem ao país que é o berço de numerosos gênios: a Alemanha. Ambos, França e Alemanha descendem das selvagens tribos germânicas.

Alguns gênios franceses: Voltaire (escritor, poeta), Ampere (cientista), Diderot (filósofo, escritor), Julio Verne (escritor), Descartes (matemático), Rabelais (escritor), Lavoisier (físico), Lazare Carnot (físico),

Alemanha

A Alemanha demonstrou, por duas vezes, na Primeira Grande Guerra e na Segunda Grande Guerra, a ferocidade oriunda de suas origens germânicas. As atrocidades cometidas pelo povo alemão estão registradas na história universal para sempre, e não são de exclusiva e individual responsabilidade de Hitler, e sim de uma inclinação à conquista, de uma DETERMINAÇÃO de liderança e de disseminação de sua cultura. Cultura, quando unida à Ferocidade, deixa apenas transparecer a segunda, pois a brutalidade é a principal vocação, infelizmente, da raça humana.

Da Alemanha vem os gênios Bach (músico), Beethoven (músico), Max Planck (cientista), Goethe (escritor), Kant (filósofo), Hegel (filósofo), Einstein (cientista), Schopenhauer (filósofo), Haendel (músico), Leibnitz (matemático), Gutenberg (inventor da imprensa), Lutero (religioso), Pierre e Marie Curie (cientistas), Gauss (físico), Kepler (astrônomo), Werner von Braun (físico), Heisenberg (físico), Paul Ehrlich (bacteriologista), Clausius (físico [termodinâmica]).

Mas vamos falar também de um povo parente dos germânicos, os anglo-germanicos, mais conhecidos como ingleses.

Inglaterra

Exercendo sua ferocidade com menos ênfase, encontramos entre os povos de origem germânica os hábeis ingleses. Estes nos deram um gênio inigualável: Sir Isaac Newton, autor da Lei da Gravidade e das bases de algo que é fartamente utilizado por matemáticos, físicos, astrônomos e outros cientistas, o cálculo diferencial e integral.

Até Einstein citou Newton, esclarecendo que havia "se apoiado em ombros de gigantes". Newton é o matemático mais importante de toda a história do conhecimento prático humano. O cálculo é o conjunto de funcionalidades para quantificação dos efeitos de fenômenos físicos existentes absolutamente essencial.

Alguns gênios ingleses: Isaac Newton (matemático, astrônomo, concebeu o Cálculo Diferencial e Integral), Charles Babagge (ramo da computação), John Dalton (teorias do átomo), Michael faraday (magnetismo), Robert Hooke (biólogo, célula), George Boole (princípios da lógica formal e lógica booleana), William Rutherford (teoria atômica).

Alma científica germânica

Estaríamos nós endossando uma base para uma teoria que poderia ser racista, etnicista, de que a origem cultural germânica poderia ser superior às demais, como quis o psicopata Hitler ? De maneira alguma, até porque este ser desprezível INVENTOU uma origem ariana para os germânicos, quando sabemos que os árias estão mais para o lado dos indianos do que para os caucasianos de pele branca e olhos azuis.

A explicação fica bem mais humana e comportamental, quando lembramos a principal característica dos povos germânicos: A SUA DETERMINAÇÃO. Lembrem-se de que são bárbaros. E se este barbarismo, esta sede de conquista se traduz, no campo intelectual, em PERSISTÊNCIA NOS OBJETIVOS, ótimo.

O campo da ciência exige muito da DETERMINAÇÃO HUMANA. Uma vez que surge uma necessidade humana que pode ser suprida com alguma teoria ou dispositivo, uma série de desafios surgem à frente do cientista. Preguiça e lassidão não combinam com a busca de uma solução. Um exemplo foi o desenvolvimento da bomba atômica, em que os americanos tiveram que lidar com um desafio a médio prazo, para acabar com a guerra com os japoneses. Os passos para se chegar, na prática à solução, foram dolorosos, e tudo está documentado no Projeto Manhattan.

As línguas anglo-saxônicas

O grupo de línguas dos povos germânicos derivou para o ramo denominado anglo-saxão. Este grupo linguístico não é tão evoluído quanto o grupo de línguas latinas. Ele pode até ter as chamadas declinações (acréscimos à raiz da palavra que especificam os "casos": sujeito, objeto, complementos), mas não tem a riqueza de construções que dá esta clareza enorme às ideias expressas em forma de um texto altamente estruturado, onde é fácil distinguir os agentes da ação, a ação, os objetos da ação e suas pessoas.

Mas então, como é que povos que utilizam uma língua tão evoluída não se revelaram, pelo menos ainda, como grandes construtores de teorias científicas ? O segredo está na DIFICULDADE. Lembrem-se do que citamos anteriormente sobre DETERMINAÇÃO. Quanto mais difícil, então, for uma língua, mais preparo ela dará ao seu praticante na superação de DIFICULDADES ? Como pode ser isso ?

Decodificando a comunicação

Tenha em mente, em primeiro lugar, que a nossa principal diferença para os animais, mesmo os que apresentam comportamentos enganosamente semelhantes ao do homem, é o fato de nos comunicarmos com uma linguagem institucionalizada por gramáticas elaboradas e por um vocabulário extenso. O tempo todo, ao nos comunicarmos, estamos codificando informação ao falar, e decodificando informação ao ouvir.

Um emissor ou receptor humano, utilizando linguagens que podemos dizer "quase tribais" como o inglês e o alemão, precisa lidar, constantemente, com construções ambíguas, pois utilizam palavras que tem vários sentidos (como o get do inglês), verbos auxiliares (como o do, to be, shall, can, para citar alguns) e com a inversão de substantivo e adjetivo.

São estas e outras características (citamos as mais conhecidas) que tornam as línguas anglo-saxônicas um verdadeiro "exercício contínuo para o cérebro". É surpreendente que o romantismo tenha nascido no berço destas línguas, e não no bonito e elaborado latim.

É este esforço contínuo que coloca o equipamento cerebral do indivíduo em constante ação, e que ajuda a desenvolver o raciocínio. E as línguas latinas, cujas estruturas são todas ordenadas, previsíveis e claras, contraditoriamente, colocam o cérebro num ritmo preguiçoso. É como uma "evolução sem novidades", um "caminho sem desafios", ou seja, não apresenta dificuldades.

A língua portuguesa, nosso terreno, nosso costume, em termos de leitura, mesmo sem conhecimento de sua gramática, é uma tranquilidade em matéria de leitura. Já as anglo-saxônicas são de interpretação problemática até para os próprios nativos. Daí as repetições tão frequentes nos textos em inglês. Isto pode ser notado quando se aumenta o som na TV para se ouvir os documentários. No original, os locutores repetem a mesma coisa, de formas diferentes, umas três vezes, a última para frisar o ponto principal, sem o que a compreensão de sua ideia fica difícil.

Conclusão

A língua é um grande determinante do sucesso intelectual de um povo, pois é a infraestrutura que armazena o conhecimento necessário para o processo. Todas são suficientes para este armazenamento, mas algumas são melhores para se obter um relacionamento exitoso destes conhecimentos.

Quanto menos pronto e rígido se estabelecer um conhecimento, maior a possibilidade de relacionamentos, que quanto mais se entrelaçarem, mais vão facilitar a criatividade e o estabelecimento das novas possibilidades.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

De Compreender até Ensinar - Estudando Mortimer J. Adler - II

Compreender

Na definição dicionarizada, Compreender é:

"Conter em si, na memória e na consciência, um significado junto ao seu conhecimento associado"

Mas será que uma pessoa comum entende este "Conter em si" ? Nem a definição de "Consciente" ainda chegou em um consenso que pudesse definir algo como estar vivo e saber o que ocorre à nossa volta.

No artigo anterior (De Perceber até Compreender) já antecipamos que Compreender é um fenômeno pessoal, resultado da fusão do que é Aprendido com as nossas experiências pessoais. Existe um dicionário público, acessível mediante compra em livrarias. A Compreensão acerca dos diversos temas do nosso contexto humano está em um dicionário pessoal, construído ao longo da vida de um indivíduo. A definição dicionarizada deveria ser, portanto:

"Armazenar na memória e na consciência, um significado do consenso comum junto às experiências do indivíduo".

Pensar

Segundo estudo da revista "Discover", nossa mente experimenta 50 mil pensamentos por dia em média. O número varia de acordo com a atividade da pessoa. O filósofo John Dewey, autor do livro "How we think (Como pensamos)" [1], define primeiramente o Pensamento como:

"Tudo o que vem à mente, ou passa pela nossa cabeça."

Como "cabeça" é a tradução literal do inglês "head", temos que entender Cabeça como "Raciocínio" ou até "pessoa". Curioso que na época de Dewey já existia o conhecimento sobre o cérebro. Ao descrever a ação de Pensar em termos do " ... que vem à mente ...", podemos entender um funcionamento episódico do cérebro. Ou seja, ele só é ativado mediante estímulo. Mas, conforme as descobertas da Neurosciência, o Cérebro é uma máquina em funcionamento contínuo, que produz nossa sensação de CONSCIÊNCIA.

A Consciência mantém disponível os "objetos de pensamento" correspondentes e associados ao contexto em que a pessoa está. Se estamos no parque, a Consciência disponibiliza ideias de pássaros, grama, sol, flores, cães, sombra, etc. Se estamos no escritório, a Consciência disponibiliza ideias de cadeira, mesa, computador, parede, janela, etc.

A Consciência é sensível ao contexto.

Portanto, podemos definir o Pensamento como:

Observar mentalmente os vários objetos de um contexto, experimentando as suas relações possíveis.

O Pensamento é uma forma ativa de Consciência. Você não fica situado em um contexto apenas por ficar. O interesse da sua mente é despertado para a busca de novos sentidos neste contexto.

Supor

Podemos considerar Supor como uma das operações do processo de Pensar. Supor depende de vontade, de esforço pessoal, e, por vezes, estende a operação de Relacionar para além dos "objetos de pensamento" do contexto examinado. Para obter algo novo, em matéria de Pensamento, é preciso buscar "objetos de pensamento" não óbvios. É o caso da invenção de Alfred Nobel, que achou a solução para que o TNT (explosivo) conseguisse ficar estável, colocando-o à baixa temperatura. Caso semelhante se deu com Einstein em relação à luz. Ele imaginou a si mesmo viajando no raio de luz. Estes cientistas fizeram suposições. O caso de Einstein talvez seja o mais extremo, pois ele pensou como uma criança. A criança não tem ortodoxia em seus pensamentos. Para ela um elefante como Dumbo pode voar utilizando suas orelhas como asas.

O caso mais recente é o da "matéria escura". Peter Higgs a previu por meio de equações. Ele utilizou a sua "terceira visão", como é chamada a Intuição, ou uma suposição que surge automaticamente pra que algo faça sentido.

Na matemática, o zero foi resultado de uma suposição a que chamaríamos de "complementação lógica". Os matemáticos estavam presos à representação das quantidades somente quando elas estivessem presentes. O zero supriu a representação de quantidade nenhuma por um numeral.

Um cientista, um pesquisador, não deve ficar preso somente ao contexto que está analisando, mas fazer associações e relacionamentos bem livres, como uma criança.

Descobrir

A Descoberta verdadeira vem de uma suposição. Do contexto em foco vem somente Conhecimento e confirmação do objeto em estudo. Descobrir vem do relacionamento dos "objetos de pensamento" de um contexto com "objetos de pensamento" de outro contexto, ou do mesmo, mas que ainda não tinha sido identificado. Neste último caso, o pesquisador fez uma "complementação lógica", ou seja, acrescentou algo ainda não definido para que um comportamento do contexto fizesse sentido.

Descobrir é o grau mais alto de Aprendizado. Segundo Mortimer, o descobridor se torna a fonte primária de aprendizado de um tema. Todos nós somos meras "esponjas" de absorção do conhecimento transmitido. Mas quando fazemos suposições e experimentações que levam à descobertas dentro do tema, ou seja, temos uma experiência pessoal com o tema em estudo, somos levados ao Aprendizado completo e verdadeiro.

Ensinar

Há muitos anos o professor era chamado de "Mestre", para caracterizar alguém que já havia alcançado um grau alto de compreensão de um tema, a ponto de poder transmitir seu conhecimento com propriedade. Mas estes tempos já se foram. Os autores de livros se converteram em compiladores do conhecimento existente, e os professores em empregados remunerados para apenas orientar os alunos em tarefas com o fim de obter pontos para aprovação.

Existem patamares de gradação neste processo de Ensinar. O primeiro é Informar, o segundo é Transmitir, o terceiro é Orientar e o último é Capacitar plenamente. Informar reside no estágio de apenas dizer que um tema existe. Se o aluno quiser ele corre atrás do conhecimento. Transmitir já é uma informação com algumas direções que facilitam a busca de informações (informação com direção). Orientar é dar a informação, indicar fontes e classificar estas fontes dizendo qual é a abordagem de cada uma. E Capacitar é uma Orientação acrescida de suas experiências pessoais, inclusive acrescentando os limites a que você chegou, desafiando a pessoa a ultrapassá-lo.

Os professores de nossa época estacionaram no estágio de Transmitir. Como muitos tem dois ou três empregos, simplesmente passam a tarefa aos alunos, na forma de exercícios ou trabalhos, e ficam se poupando na "cadeira de mestre", para evitar um stress ocupacional. Existe uma gradação correspondente aos professores de cursinho, que é a de "Transmitir com macetes". Como o objetivo do aluno de cursinho é resolver questões, os professores deste tipo os orientam quanto à forma esperada de raciocínio exigida por este ou aquele concurso ou teste.

Vamos dar um exemplo destes estágios. Suponhamos que o Tema abordado seja o "Capitalismo". No estágio informar, o professor ordena aos alunos que pesquisem o Capitalismo para a próxima aula que ele vai ministrar (ou pelo menos acredita nisto). É necessário dar as duas visões sobre esta forma de educação chamada de "pesquisa". A pesquisa é muito interessante em termos de (1) dar responsabilidade; (2) ensinar o aluno a achar seus próprios caminhos; (3) desenvolver a visão panorâmica. Este é um lado. Mas considerando a diversidade de educação que os alunos trazem, a diversidade de fontes e a maturidade variada que por vezes não lhes permite distinguir as fontes boas das ruins, a pesquisa pode ser desastrosa, além da visão, até correta, de que a missão do professor é ensinar com eficácia.

No estágio de transmitir, o professor vai fazer uma pequena explanação (talvez até contida em um "Power-Point" resumido) sobre o nascimento e desenvolvimento do Capitalismo, suas teorias e seus teóricos, as crises econômicas mundiais, etc. No estágio de orientar, além desta apresentação, o professor vai ensinar os alunos a distinguir as tendenciosidades que podem aparecer nos textos que os alunos certamente vão procurar na Internet.

No estágio de capacitar, o professor vai mostrar sua apresentação, porém discutindo o Capitalismo dentro da vida diária dos alunos, fazendo-lhes perguntas, e colocando as respostas nos lugares certos das teorias, conceitos e ideias apresentadas em sua explicação inicial.

A grande maioria dos professores já abandonou o estágio de capacitar, pois nem eles mesmos passaram por este estágio. Discutir com os alunos, principalmente adolescentes, traz uma enorme dor de cabeça. A empatia com os alunos só é possível com professores que conheçam a psicologia que envolve seu público, além de um nível de conhecimento que eles nem sonham em adquirir, por preguiça ou por cansaço.





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[1] How we Think - Dewey, John - Part I - The Problem of Training Thought


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

De Perceber até Compreender - Estudando Mortimer J. Adler - I

No Post anterior nos referimos ao conceito de Aprender, na forma da raiz da ação de Apreender ligado a um objeto. Esta é a abordagem louvável que fez o erudito autor Mortimer J. Adler, de cujo trabalho vamos falar ao longo dos próximos artigos, em busca da compreensão dos métodos para Coletar e Gerir o Conhecimento com eficácia.

Percebemos, mas isto basta ?

A sociedade do final do século XX e deste início do século XXI estacionou no PERCEBER, com a justificativa do imediatismo e da ênfase exagerada no lazer. Não vamos tecer "considerandos" sociológicos, para não perder o foco em nosso objetivo.

Mais que OBSERVAR, os indivíduos se detiveram apenas no VER. Ver é essencialmente involuntário. Observar toma tempo pois implica em medidas, em comparações, em analogias, e em tempo finalmente. A sociedade atual nos ensina a não perder tempo. Hoje tudo é terceirizado, na crença de que o dinheiro paga o tempo que nós iríamos gastar com um processo demorado. Ver e Ouvir está para a preguiça, e Observar demonstra um pouco de vontade.

Todos estes estágios param em apenas PERCEBER. Qual é o lucro, e que esforço é mostrado nisto ? Nossos olhos, ouvidos, nariz e tato estão aí para isto mesmo. Mas qualquer ser primitivo, besta fera, é capaz de estar sujeito aos estímulos, Até os sensores de presença fazem trabalho semelhante.

Usando a Percepção

Daí vem uma capacidade humana que abre para os férteis terrenos da mente: DECODIFICAR. Quando reconhecemos um padrão, e sobre ele uma mensagem a mais do que nossa Percepção detecta, estamos agregando valores ao que é visto, ouvido, tocado ou sentido pelo olfato.

Alguém já disse que o analfabeto é "um cego para as letras". Ele sabe que tem algo escrito, mas não tem a mínima ideia do que possa ser [1].

A Decodificação presume um Conhecimento prévio das duas partes, a que envia a mensagem e a que recebe a mensagem. Um código sujeito à decifração exige pelo menos dois indivíduos. No caso das línguas, este código é de conhecimento amplo, molda mentes, descreve costumes e pode delimitar uma nação. Tal é a força de uma língua [2]. Mas é a língua ou o código que forma a sólida base de uma nação ? Podemos dizer que é o código por detrás da língua, pois as derivações das raízes formam todo um sistema filosófico, que origina costumes e religião. Exemplo clássico é o do povo judeu. A prova de sua solidez é a perseguição empreendida contra os seus princípios. Mas isto é uma discussão filosófica, fora do escopo de nosso objetivo. Só mencionamos este aspecto para realçar o poder de um código.

Decodificar e Ler

Se chamarmos a Decodificação silábica para fins de pronúncia e reconhecimento das palavras de Ler, estaremos nos tornando um pouco melhores que os papagaios. Classifiquemos esta forma de Leitura exclusivamente funcional em Decodificação, com toda a honestidade. O ser humano foi concebido para muito mais do que isto. Somos muito mais capazes do que isto. Lembrem-se que nós mesmos, humanos, concebemos alfabeto, valores fonéticos e SIGNIFICADOS. Utilizamos do princípio dos SÍMBOLOS e criamos alfabetos, arquitetamos as sílabas, e associamos a isto Ideias e Conceitos.

O Olhar para identificar e Separar

Ao olharmos (ação efetiva, e não somente o ver da Percepção) alguma coisa, esta toma algum sentido quando percebemos as suas PARTES. Isto é SEPARAR. Não é atoa que Separar é a ação por excelência daqueles que almejam a Compreensão das coisas.

Na leitura, somente a Decodificação e Verbalização não levam a nada. Ainda temos as variadas Partes dos aglomerados de símbolos. Os símbolos (PALAVRAS, as menores unidades de uma leitura) são espaçados e formam Frases. As Frases compõem afirmações, negações e qualificações diversas. As possibilidades são infinitas. Ao discernimos os espaços, sabemos onde os símbolos (Palavras) começam e acabam. As vírgulas, pontos finais e outros tipos correlatos nos dão outros limites de Separação.

Ler e Conhecer

Mais do que Ler (atingido o correto proceder que se segue a uma Decodificação, ou até a uma Separação), o Leitor/Interpretador precisa ter a capacidade de extrair Conhecimento de um texto. Isto não é trivial. Convido-os a ler os comentários das redes sociais, que evidenciam, de forma contundente, esta deficiância, em amostragem de grandes proporções.

A coleta e formação de Conhecimento exigem uma quantidade de habilidades que exigem método, paciência e muita experiência.

Mas por que associar Ler e Conhecer, quando o conhecimento pode vir de diversas fontes ? Porque o Conhecimento pela leitura já vem de uma forma organizada. É facil se explicar verbalmente, mas colocar um tema da forma escrita exige Sequência concatenada de pensamentos, explicação dos pontos difíceis (ideias e conceitos que não fazem parte da vida comum), referências cruzadas (ao que já foi colocado anteriormente), evidências que corroboram fatos e argumentos, e uma série de elementos que tornam o tyexto agradável de se ler.

Por isto, A LEITURA PROPORCIONA UMA DAS FONTES MAIS EFICAZES DE TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO. E hoje, no século XXI, existe uma legião de medíocres que questionam a leitura clássica disponível, consagrada pelos tempos, como as obras de Platão, Sócrates, Locke, Kant, Marx, Adam Smith, Descartes e outros ícones da literatura e da filosofia. Em termo de obras podemos citar como referência absoluta e inquestionável, pela sua notoriedade: o Inferno de Dante, Ilíada, Odisséia, Bíblia, Mahabartha, Ramayana, Gargântua, Fausto, Riqueza das Nações e outros.

Estes autores e estas obras são referência, são pilares do saber, Se a pessoa acha-as dispensáveis ou ultrapassadas, diremos:

Se a nossa sociedade se formou e evoluiu a partir do conhecimento existente nestes livros, este conhecimento deve, obrigatoriamente, SER RECONHECIDO POR NÓS, como uma infra-estrutura inquestionável de pensar e de orientar nossa forma de conduzir nossas vidas.

Você ignora o conteúdo da Riqueza das Nações ? Azar o seu, pois a nossa estrutura econômica continua obedecendo aos princípios enunciados e explicados neste livro. Acha graça de algumas "lendas" da Bíblia ? Lendas ou realidade, descrevem coisas bem básicas do ser humano, como inveja, ódio, mentira, etc. Acha Descartes dispensável ? Pois saiba que todo o princípio da geometria plana reside nos princípios do plano e de suas coordenadas Cartesianas. Acha Sócrates um tolo ? Ele enunciou, com os filósosfos, princípios da psicologia que são baluartes do modo de encarar a vida, como o famoso "CONHECE A TI MESMO".

Valorização exagerada do Conhecimento

Tem uma dúvida ? Consulte o oráculo Google. Ele tem tudo. Mas só no que se refere ao Conhecimento. Você é que vai ter que resolver o seu problema. O Google, como repositório de Conhecimento, não mostra exatamente a solução de um problema da vida. Ele fala sobre o problema. Você é que vai precisar digerir o conhecimento apresentado, unir à sua experiência, pensar um determinado tempo, e só então propor a si mesmo uma solução. E depois é colocar em prática.

O Conhecimento é como uma vasta biblioteca. O livro sobre o assunto relacionado ao problema que você precisa resolver não vai saltar da prateleira automaticamente. Por vezes você pensa que a solução do seu problema está na medicina, quando realmente ele já foi contemplado pela psicologia. Uma boa Biblioteca não tem só bons livros, mas um bom bibliotecário, que vai te ajudar na procura e na escolha do melhor resultado.

Conhecer e Aprender

Suponha a seguinte situação. Você é apresentado ao seu novo vizinho. Isto é Conhecimento. Você vai lhe dar bom dia, boa tarde e boa noite a partir do dia da apresentação mútua. Mas isto te dá a capacidade de tratar com este vizinho sem que surjam discussões ?

Para Aprender a lidar com este novo vizinho, vai ser preciso utilizar a Percepção (observação visual, diálogos, etc). Será preciso contato pessoal. Nem sempre o que se comenta sobre outra pessoa pode ser armazenado como Conhecimento. As opiniões (a vida e a Internet fornecem uma série de opiniões idiotas) não passam de opiniões. Elas precisam vir acompanhadas de um dossiê sobre o emissor da opinião. Quando o emissor é venal, mentiroso ou parcial, ela não srve de nada.

Para aprender sobre este vizinho, vai ser preciso armazenar um histórico de suas ações, de seus comportamentos sociais e de seu comportamento no trabalho. Isto é Conhecimento. Além disto, você pode proceder aos experimentos. O Conhecimento não é um curso de água estagnado. Você pode experimentar deixar uma revista que ele assina na porta dele, para ver se ele agradece. Pode-se também pedir dinheiro emprestado ao vizinho. Parece brincadeira, mas com estes atos pode-se aprender muito sobre a reação da pessoa.

O Conhecimento não é estático. Principalmente no terreno científico, a coisa muda com muita rapidez.

Aprender e Compreender

O que é Compreender ? A maior parte das pessoas confunde esta ação com Aprender. Compreender é o estágio mais avançado de Aprender. A Compreensão vem quando você cruza o Conhecimento consolidado sobre um assunto com a sua experiência pessoal. Compreender é, portanto, A INTERNALIZAÇÃO PESSOAL DO CONHECIMENTO CITADINO (o consagrado pela maioria das pessoas).

Aprender é mais ligado ao instinto gregário, e Compreender reside no âmbito pessoal. Na sala de aula, os alunos Aprendem, juntos, a extrair a raiz quadrada de um número, na forma de um método que vale para qualquer pessoa. O cálculo não depende da pessoa, e sim do método. Mas cada aluno tem uma Compreensão do processo diferente, imaginando, por exemplo, que a estimativa da primeira raiz começa pela metade do número que consta do problema proposto. Outro aluno pode ter em mente que esta estimativa é de um terço do número. Outro pode utilizar uma tabela.

Em outras palavras,

 APRENDER É COLETIVO,
 COMPREENDER É INDIVIDUAL.

Um outro exemplo seria o aprendizado da digestão. Um aluno que veio da zona rural pode imaginá-la lembrando das observações que fez das vacas que via nas fazendas. Já o aluno da zona urbana pode aplicar suas lembranças pessoais de se alimentar no self-service e de ir ao banheiro. Outro ainda pode associar a digestão ao regime de evacuação do seu cachorro de apartamento, analisando o quanto ele come e o volume e cor de suas fezes. Ou seja, Aprender é uma atividade "impressionista": você agrega suas impressões de fenômenos associados aquele Conhecimento ao que é ensinado em sala de aula ou nos livros didáticos.






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[1] O artigo 595 define "assinatura a rogo", feita por duas testemunhas, em contrato, caso uma das partes seja analfabeta.
[2] Vejam os exemplos dados pelos Bascos, Judeus, Curdos e Árabes.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O que é aprender ?

Como APRENDER é algo que se destaca em uma sociedade cultural, o meio mais frequente para tal fim se torna a LEITURA. É a partir dela que o APRENDIZADO se consolida. Este assunto foi tratado por Mortimer J. Adler em seu antológico livro que, na tradução para o português leva o título "A Arte de Ler" [1]. Segundo ele, a Leitura é uma das ferramentas, talvez a principal, para se chegar ao Aprendizado [2].

O autor (Mortimer J. Adler) faz uma comparação entre o ato da LEITURA e um jogo de BEISEBOL [3]. E fruto desta comparação é citada a tríade de verbos: LER, APRENDER e APREENDER. A última ação (apreender) é a que mais se aproxima da função do "catcher" deste esporte americano tão popular (beisebol), cuja função é justamente a de APREENDER [4] a BOLA.

Nesta feliz comparação de Mortimer, a BOLA é o novo CONHECIMENTO [5], que deve ser Seguro (apreendido, agarrado). Nesta analogia, o que seria a MÃO do "catcher" ? Esta mão representa a COLEÇÃO DE CONHECIMENTOS da mesma categoria, e de categorias mais próximas do Contexto em que ele foi expresso ou observado, ato que se iguala ao LANÇAMENTO DA BOLA [6].

Verdade Redundante

Se a Bola (nova ideia) precisa ser Segura (apreendida) pela Mão (conhecimentos já adquiridos), podemos dizer que só podemos compreender um novo Conceito ou Definição se já possuirmos, a anteriori, um somatório suficiente de "pré-conceitos" relacionados ao qual fomos expostos agora, no momento deste novo APRENDIZADO. Daí constatamos o quão difícil é aprender algo novo.

E se for totalmente NOVO, precisamos compreender o grau de dificuldade implícito no ensinamento de Ranganathan: "só podemos distinguir com clareza algo já parecido com outro algo que já conhecemos".

Formação do Conhecimento

Pelo que foi exposto, fica fácil compreender o porquê da formação de um adulto crítico a partir de uma criança altamente sugestionável, que absorve com grande avidez as primeiras impressões e verdades da vida sem questionamento e com grande alegria.

Os conhecimentos básicos das crianças vem das impressões colhidas em meio aos cuidados de seus pais em relação a elas, das canções de ninar, das brincadeiras com os pais, das atividades e dramatizações feitas utilizando ou não seus brinquedos como intermediários, da descoberta de seu próprio corpo, da observação do ambiente físico do seu lar e da observação da natureza (árvores, animais, céu, sol, lua, veículos, casas). Sobre este Universo básico serão colocados novos conhecimentos "lançados" sobre as crianças. Ligações ("links" [7]) serão então construídos entre este novo conceito "lançado" e os já existentes por meio de relações.

Relações Ricas e Relações Pobres

As relações entre conceitos podem ser diretas ou indiretas. Por incrível que pareça, as indiretas são mais eficientes para provocar crescimento e maturidade. As relações pobres são os sinônimos. E por que pobres ? Porque sugerindo uma associação imediata, não implicam em uma cadeia de raciocínios que provoque aquela sensação de revelação peculiar á descoberta. As ricas são as mediadas por verbos em expressões significativas que lembram fatos históricos, episódios ilustrativos. Alguns exemplos de verbos são: possui, determina, submete, controla, é controlado e assemelhados.

As relações intermediárias envolvem comparações como "é menor", "é maior", "é igual", pois se aproximam de uma medida geométrica.

Relações episódicas

Uma situação bem conhecida vai ilustrar esta exposição. Se a criança já fez suas dramatizações (chamaremos assim por ser mais conveniente) com seus carrinhos de brinquedo, ela vai "RECONHECER", ou seja, "APREENDER" o significado do carro de seu pai, apenas acrescentando a este significando (o carro do pai) o característico de ser maior do que aquele com o qual brincava e que lhe serviu de modelo mental. E quando for mais velha, esta criança, ao entrar em contato com o Ônibus, pela primeira vez, vai acrescentar ao significando do carro um novo conceito, qual seja o de "Carro que transporta várias pessoas, bem mais do que o carro básico".

Quanto mais "História" a criança ou o jovem (ou mesmo o adulto) acrescentar a um significando, enriquecendo o seu significado, mais relações estará construindo em torno do núcleo básico de uma ideia, de um conceito e, consequentemente, melhor, mais eficiente será a "APREENSÃO" do conceito "lançado" sobre ela.

Anotações e Aprendizado Ativo

Mortimer chama o Aprendizado de ativo quanto mais atividades o leitor realiza enquanto está lendo. As formas mais comuns de atividades são: o grifo, as anotações, os diagramas. Só pelo fato de estar com uma caneta na mão anotando, o leitor já está integrando seus centros motores na ação de leitura. Mas a integração de centros motores à atividade intelectual é só um fator auxiliar. Perguntaríamos: "onde está o estímulo intelectual na leitura ativa ?"

A resposta está na maior possibilidade de se achar Relações entre as Ideias ou Conceitos Básicos da infância e as Ideias Lançadas, bem como entre os Conceitos Secundários em relação aos Básicos e os Conceitos ou Ideias Lançadas pelo texto. As relações entre conhecimentos Básicos e os Novos se encaixam na regra de Ranganathan sobre Reconhecimento.

Só podemos dizer que aprendemos quando constatamos que fomos capazes de estabelecer estas Relações entre o Novo e o Velho.

Dedução

A Dedução é uma Relação mais distante com base nas Ideias relacionadas, num nível superior. Uma dedução simples seria, a partir de a = b e b = c, deduzir que a = c. Para a dedução é preciso um pouco do elemento de "insight". Você consegue constatar algo entre as Ideias que não está diretamente associado a elas, mas à uma composição das mesmas. Seria como a percepção de Einstein sobre as propriedades da luz, quando se imaginou viajando em um de seus raios.

Conclusão

Ler é uma das ferramentas para se Aprender. Aprender é estabelecer Relações entre Novas Ideias e o conjunto de Conceitos e Ideias contidos em nossa memória,


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[1] Editora AGIR - Primeira Edição ano 1930. Título original: "How to read a book".
[2] Leitura e Aprendizado - Se a leitura for feita como reza o livro citado, ela servirá de instrumento eficiente para um aprendizado eficaz.
[3] Capítulo 2, parte 3 (numeração da edição de 1954 - Editora AGIR)
[4] Sendo o corpo a medida e parâmetro inicial para as comparações do ser humano, o SEGURAR da Bola é o que mais se aproxima do APREENDER dos sentidos que uma leitura quer expressar.
[5] O Conhecimento é uma expressão precisa de uma nova Observação ou Dedução, completo em si mesmo, conforme a Ideia de seu Autor. Ele não é a INTERPRETAÇÃO que lhe dão, mas um fruto genuíno de CONTEXTO definido no momento da experimentação ou no momento de sua dedução. Ele está solidamente atrelado a uma Época (Tempo) e a um lugar (Local). Reexperimentado e produzindo as mesmas impressões em outros Tempos e Locais, ele se torna um Conhecimento Global, um CONCEITO ou uma DEFINIÇÃO.
[6] A cada vez que surge uma dificuldade, expressa por um problema, resultado de uma mudança ocorrida em um Tempo da história, podemos dizer que houve o lançamento de uma Bola, como uma nova tendência, uma nova moda ou uma nova solução.
[7] Esta forma de ligação ficou mais evidente com o surgimento do ambiente Web. O livro pioneiro nestas ligações foi a Bíblia, com seus versículos cruzados.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Autopoiesis - Princípio da Continuidade dos Sistemas

Segundo o pensamento Grego, existe um princípio que dita a continuidade das coisas e das instituições. É o Princípio de Autopoeiesis, cuja definição é a seguinte:

Capacidade de um Sistema de se Organizar, se adaptar e de se Autogerir, além de se Reproduzir e melhorar a sua Gestão.

Significado

Uma vez que se delimite um sistema, suas leis e procedimentos, o mesmo começa a funcionar, e continua desta forma. Cabe aos seus componentes revisarem e melhorarem os procedimentos, com vistas a economia e busca de processos que tenham a ver com a sua natureza, pois o que não melhora acaba degradando.

Este mesmo procedimento é inevitável no caso de uma crise. Esta força os membros do Sistema a procurarem formas de superá-la, e isto acaba mantendo o Sistema vivo e funcionando.

Exemplos

Uma área departamental de uma Empresa ou uma franquia são bons exemplos de Sistema Autopoiético.

No caso da franquia, a função reprodutiva é a abertura de uma nova, onde os membros foram selecionados e treinados. No caso de uma área departamental, a reprodução pode ser o treinamento de uma equipe que vai utilizar certos modelos administrativos comuns para se gerir. Neste caso, empregados da área de pessoal podem treinar os empregados de uma nova área de meio ambiente nos procedimentos administrativos comuns a todos os departamentos.

Autopoiesis e Filosofia de Trabalho

Como a Autopoiesis serve como ferramenta de comparação entre o um Local de Trabalho (área, seção, departamento) com um Sistema Autogerível. Seus componentes devem ver a si mesmos como susbsistemas ou componentes, funcionando sem ultrapassar o seu limite de autodestruição. O Limite de Autodestruição de uma pessoa é aquele que extrapola o seu limite metabólico, afinal cada um é também um Sistema Biológico.

Exemplos de Sistemas Autopoiéticos

São exemplops deste tipo de sistema:

A célula;
A pessoa;
Empresas;
Uma floresta;
O Mundo.

Consequências

Tudo o que é Sistematizado tende a sobreviver e a melhorar.